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A LGPD como Espelho da Hipocrisia Política e Empresarial

Como a Lei Geral de Proteção de Dados revela a dualidade nas práticas de transparência e privacidade.


Em um cenário onde a privacidade e a proteção de dados tornaram-se temas centrais no debate público, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) emerge como uma espada de dois gumes. Por um lado, ela promete resguardar os direitos dos cidadãos em relação ao tratamento de suas informações pessoais; por outro, revela a hipocrisia de um sistema que, muitas vezes, utiliza a legislação para se proteger de investigações e críticas. Recentemente, o Senado brasileiro decidiu manter sigilos sobre registros relacionados a um esquema de corrupção, alegando a LGPD. Essa situação levanta a questão: até que ponto a proteção de dados é utilizada como um escudo para encobrir práticas ilícitas?

O caso do senador e suas associações com o crime organizado traz à tona um dilema: a transparência se torna conveniente quando serve para atacar o cidadão comum, mas é rapidamente esquecida quando se trata de proteger interesses políticos e financeiros. A justificativa baseada na LGPD parece, assim, um artifício para evitar que a verdade venha à tona, enquanto a voz da sociedade clama por clareza e responsabilidade. O UOL, ao recorrer da decisão, lembra que a Controladoria-Geral da União já considera esses dados como de interesse público, evidenciando a contradição existente nas práticas legislativas.

No universo corporativo, a LGPD também se mostra uma faca de dois gumes. Em um relato curioso, uma cliente destacou como a burocracia imposta pela lei a salvou de uma pressão indevida por parte de uma construtora. O argumento de que a coleta de dados era necessária para "fechar a meta do mês" não se sustentou diante dos direitos garantidos pela LGPD. Esse exemplo ilustra como a legislação pode servir como uma proteção para o consumidor, mas também levanta a questão: as empresas realmente respeitam a privacidade de seus clientes ou utilizam a lei como uma desculpa para a falta de ética?

Além disso, a movimentação no Congresso, onde tramitam projetos que visam alterar tanto o Marco Civil da Internet quanto a LGPD, revela um jogo de poder onde interesses de grandes corporações se sobrepõem ao bem-estar da sociedade. O chamado "Centrão" parece querer marcar território, mas a pergunta que fica é: quem realmente se beneficia dessas mudanças? As grandes techs, que frequentemente violam a privacidade dos usuários em nome do lucro, ou os cidadãos que clamam por um ambiente digital mais seguro?

A recente demissão em massa no Itaú expõe os riscos do monitoramento digital e os possíveis passivos ocultos que podem surgir de práticas que violam a LGPD. A confiança entre empresas e funcionários é fragilizada quando as regras são desrespeitadas. A luta pela proteção de dados, portanto, não é apenas uma questão de conformidade legal, mas uma questão de ética e respeito mútuo. A LGPD, ao mesmo tempo que oferece um caminho para a proteção, também revela as fissuras em um sistema que ainda precisa evoluir para garantir que a privacidade não seja apenas uma palavra de ordem, mas uma realidade para todos.