Artigos

A LGPD e a Sombra do Sigilo: Um Olhar Crítico sobre a Transparência na Era Digital

Como a LGPD está sendo utilizada em nome do sigilo e o que isso significa para a sociedade.


Em um mundo onde a informação é poder, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) se apresenta como um escudo essencial para a privacidade do cidadão. No entanto, em meio a um cenário caótico de investigações e escândalos, a aplicação dessa lei levanta questões importantes sobre sua real eficácia e sobre como seus princípios estão sendo interpretados. Recentemente, o Senado brasileiro optou por manter o sigilo de informações relacionadas a um esquema bilionário, sob a justificativa da LGPD, enquanto a sociedade clama por transparência e justiça.

A situação se torna ainda mais intrigante quando se observa que a mesma legislação que deveria proteger os direitos dos cidadãos está sendo utilizada como ferramenta para ocultar informações em casos de interesse público. O UOL, um dos principais veículos de comunicação do país, recorreu à Justiça, argumentando que a Controladoria-Geral da União já considera esse tipo de dado como de interesse público. Essa contradição entre a proteção de dados e a necessidade de transparência revela um dilema que permeia a aplicação da LGPD: até onde vai a proteção e até onde começa a obstrução?

Paralelamente, a desconfiança em relação à aplicação da LGPD cresce quando observamos práticas de monitoramento digital em grandes corporações. Recentes demissões em um dos maiores bancos do Brasil expuseram a fragilidade da privacidade dos funcionários. A advogada que analisou o caso alertou sobre os riscos de violação da LGPD, indicando que a busca incessante por dados pode gerar passivos ocultos e comprometer a confiança entre as empresas e seus colaboradores. A transparência em ambientes corporativos deve ser uma via de mão dupla, onde os direitos dos trabalhadores são respeitados, e não apenas uma ferramenta para maximizar lucros.

Um exemplo alarmante da negligência em relação à LGPD é o caso de um aplicativo de relacionamento que, desconsiderando completamente a proteção de dados, expôs informações sensíveis de seus usuários. O resultado foi uma onda de indignação e protestos, mas a resposta da empresa foi atribuir a falha a um ataque hacker, ignorando a responsabilidade que tinha de assegurar a privacidade de seus usuários. A falta de recursos de cibersegurança e a omissão em garantir que os dados estivessem protegidos são um reflexo preocupante da forma como algumas empresas tratam a legislação.

Com pelo menos 73 projetos de lei em trâmite que visam alterar o Marco Civil da Internet e a LGPD, é fundamental que a sociedade esteja atenta. As mudanças propostas, muitas vezes alinhadas a interesses de grandes empresas de tecnologia, podem comprometer ainda mais a proteção dos dados dos cidadãos. A luta pela transparência e pela defesa da privacidade deve continuar, pois a LGPD não pode ser uma barreira ao acesso à informação, mas sim um pilar que sustenta a confiança entre o Estado, as empresas e a sociedade.