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A LGPD e o Paradoxo da Transparência: Entre a Proteção e o Sigilo

Como a Lei Geral de Proteção de Dados impacta a transparência e a privacidade no Brasil.


Em um mundo cada vez mais digital, a proteção de dados pessoais se tornou uma questão central nas discussões sobre privacidade e segurança. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em 2020, surge como um marco importante para garantir que os cidadãos tenham controle sobre suas informações. No entanto, a aplicação dessa lei frequentemente provoca debates acalorados, especialmente quando se trata de transparência e acesso à informação pública. Como bem disse a cantora Lana Del Rey, "please don't try to find me through my dealer" - um pedido que ressoa em uma sociedade que luta para proteger o que é seu, mesmo quando isso pode esbarrar em outros interesses.

Recentemente, o Senado brasileiro decidiu impor sigilo sobre registros relacionados a investigações que envolvem figuras públicas e casos de corrupção. A decisão foi justificada pela LGPD, mas gerou controvérsias. O UOL, em um ato de resistência, recorreu ao Judiciário, argumentando que a Controladoria-Geral da União (CGU) já considera esses dados de interesse público. Aqui, o dilema se torna evidente: até que ponto a proteção dos dados não se transforma em um escudo para esconder crimes e proteger interesses escusos?

A LGPD, muitas vezes vista como uma "coffee table law", ou uma lei que parece mais uma peça de decoração do que uma norma efetiva, também levanta questões sobre a responsabilidade das empresas e instituições. Um relato de um cidadão que teve sua entrada a um evento barrada por questões burocráticas relacionadas à lei destaca a frustração comum: enquanto a proteção de dados é crucial, a aplicação excessiva da norma pode criar barreiras desnecessárias ao acesso a serviços e informações. A ironia é que, muitas vezes, a própria empresa que exige conformidade com a LGPD pode não estar lidando com suas próprias obrigações de maneira adequada.

Além disso, a questão da violação de sigilo médico, que se entrelaça com a esfera criminal, traz à tona a tensão entre proteção de dados e a necessidade de accountability. É evidente que a LGPD trouxe avanços significativos na proteção da privacidade, mas também expôs as fragilidades de um sistema que ainda luta para equilibrar a transparência e o sigilo. A proteção de dados não pode ser uma arma utilizada para silenciar ou impedir investigações que visam a justiça.

À medida que navegamos por este novo território da privacidade digital, é fundamental que continuemos a questionar como a LGPD está sendo aplicada e quais são suas reais implicações. A proteção de dados pessoais deve servir para empoderar os cidadãos e não para proteger aqueles que operam nas sombras. O verdadeiro desafio está em encontrar um caminho que permita a transparência necessária para uma sociedade justa, sem sacrificar a privacidade e a segurança dos indivíduos.