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Entre a Segurança e a Privacidade: O Dilema da Verificação de Identidade na Era Digital

Como a busca por segurança online pode comprometer nossos dados pessoais sob a LGPD.


Vivemos em um mundo onde a proteção de dados se tornou uma questão central em nossas interações digitais. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) surgiu como um farol de esperança, prometendo resguardar a privacidade dos cidadãos brasileiros em meio a um mar de incertezas tecnológicas. No entanto, a proposta de verificação de identidade, defendida por alguns como uma solução para proteger crianças e adolescentes na internet, levanta questões cruciais sobre até onde podemos ir em nome da segurança. A cada dia, nos deparamos com a realidade de que, para blindar nossos filhos, podemos estar entregando de bandeja nossos dados pessoais às grandes corporações.

Imagine que você deseja acessar um serviço online e, para isso, é solicitado não apenas seu nome, mas uma foto, uma identidade biométrica, e até a verificação de seu histórico. A ideia de que isso possa ser implementado sem o devido cuidado com a LGPD é alarmante. Afinal, a lei não foi criada para ser ignorada, mas para proteger os cidadãos de abusos e vazamentos. A proposta de vincular a verificação de identidade a uma plataforma governamental, como o gov.br, poderia ser uma alternativa viável, desde que respeitasse os princípios da privacidade e da proteção de dados. Nesse cenário, o papel do governo seria garantir que os dados não fossem utilizados para monitoramento em massa, mas sim para assegurar um acesso seguro e controlado à internet.

Entretanto, a discussão não pode se restringir apenas à implementação de tecnologias. É essencial refletirmos sobre a responsabilidade que temos como sociedade em defender nossa privacidade. A ideia de que um controle mais rigoroso sobre os dados pessoais é necessário para a segurança online não deve ser um argumento que permita a erosão de nossos direitos. A LGPD existe para evitar que nossas informações sejam tratadas de forma inadequada, e é fundamental que as grandes empresas e o governo respeitem isso. A verdadeira proteção não reside na coleta desenfreada de dados, mas na sua utilização consciente e ética.

O que se observa é que, ao buscar soluções para problemas complexos como a segurança infantil na internet, muitos acabam abrindo mão de sua privacidade. Este é um caminho perigoso, que pode resultar em um cenário onde a vigilância se torna a norma. Precisamos lembrar que a internet, apesar de suas promessas de conexão e liberdade, pode também se tornar um terreno fértil para abusos. A batalha pela proteção de dados deve ser uma prioridade, e não um detalhe secundário na implementação de políticas públicas.

Assim, o convite que deixo a todos é para que reflitam sobre o verdadeiro custo da segurança na era digital. O que estamos dispostos a sacrificar para garantir a proteção de nossos filhos e de nossas informações? A resposta a essa pergunta moldará o futuro da nossa sociedade e determinará a eficácia da LGPD como um instrumento de defesa da privacidade. Afinal, a verdadeira segurança não deve vir à custa da liberdade, mas sim da responsabilidade compartilhada entre cidadãos, governo e empresas.