LGPD: Entre a Transparência e a Opacidade na Era Digital
Como a legislação de proteção de dados ainda enfrenta desafios no Brasil.
Recentemente, um estudo revelou que muitas das inteligências artificiais populares disponíveis no mercado não cumprem os requisitos estabelecidos pela LGPD. Isso levanta uma questão crucial: como podemos confiar em tecnologias que manipulam nossos dados se elas próprias não estão em conformidade com a legislação? A resposta pode ser encontrada em uma crítica mais ampla às instituições responsáveis pela fiscalização e aplicação da lei, que, em muitos casos, agem com leniência em vez de rigor.
A ironia é que, enquanto os cidadãos se esforçam para denunciar abusos e vazamentos de dados, encontram uma barreira burocrática que muitas vezes os leva a um beco sem saída. O desamparo e a frustração são palpáveis, especialmente para aqueles que, como os aposentados, se sentem vulneráveis diante de práticas invasivas que expõem suas informações pessoais. A LGPD deveria ser uma ferramenta de proteção, mas frequentemente se transforma em um obstáculo que limita o acesso a informações que são, na verdade, de interesse público.
A discussão sobre a aplicação da LGPD também se estende ao setor público. O parecer nº 00009/2022, emitido pela CGU/AGU, enfatiza que a transparência e a proteção de dados não são mutuamente exclusivas. O artigo 23 da LGPD permite que o tratamento de dados seja realizado pelo Poder Público para cumprir obrigações legais. No entanto, a prática tem mostrado que a opacidade prevalece, com informações sendo censuradas sem critérios claros, ferindo princípios básicos de publicidade e acesso à informação.
Neste cenário, a construção de uma cultura de proteção de dados é imprescindível. É necessário que tanto as instituições quanto os cidadãos compreendam que a LGPD não deve ser uma forma de censura, mas sim um escudo que protege a privacidade individual em um mundo digital. Ao promover uma discussão franca sobre os limites e as possibilidades da legislação, podemos avançar rumo a um equilíbrio entre a proteção de dados e a transparência, essencial para a manutenção da democracia e da confiança pública.