LGPD: O Desafio do Consentimento em Tempos de Pressa

Entenda como a pressa e a falta de empatia podem comprometer a proteção de dados no Brasil.

17/05/2025 07:02
Em um mundo onde a rapidez e a eficiência parecem ser as palavras de ordem, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) se apresenta como um importante bastião da privacidade. Recentemente, em uma reunião, presenciei uma situação que encapsulou a essência do dilema moderno sobre consentimento: um chefe, com toda a sua autoridade, sugeriu que validássemos uma questão crítica sobre a LGPD com a ajuda de uma inteligência artificial. A ironia não poderia ser mais aguda. Como pode uma máquina compreender as nuances da privacidade humana?

Imagine-se em um ambiente barulhento, lotado de pessoas esperando ansiosamente por um copo d'água. Para saciar a sede, você precisa preencher um extenso cadastro, enquanto as reclamações ecoam ao seu redor. Essa cena é um reflexo da realidade em muitos negócios que, em nome da conformidade com a LGPD, esquecem que o consentimento deve ser um ato consciente e não uma obrigação imposta sob pressão. Nesse contexto, fica evidente que a verdadeira essência da LGPD ? que busca proteger os direitos dos indivíduos sobre seus dados pessoais ? é frequentemente desrespeitada.

A legislação brasileira, com seu arcabouço robusto, foi criada para garantir que os cidadãos tenham controle sobre suas informações pessoais. Artigos da Constituição, como o artigo 5º, reforçam o direito ao nome e à identidade, estabelecendo a base para ações judiciais em casos de violação de dados. Contudo, a questão permanece: como podemos garantir que essa proteção seja efetiva em um cenário onde as empresas parecem mais preocupadas em evitar sanções do que em respeitar os direitos de seus clientes?

A pressão para se adaptar à LGPD tem levado grandes empresas, como ByteDance, Uber e Telegram, a abrir canais de comunicação mais transparentes e eficientes. Essa mudança é positiva, mas ainda longe do ideal. O que se observa é um movimento reativo, quase como um puxão de orelha, em vez de um compromisso genuíno em respeitar a privacidade do consumidor. O fenômeno das Big Techs é um exemplo claro de como a conformidade pode ser apenas superficial, sem um verdadeiro entendimento do impacto que as práticas de coleta de dados têm sobre os indivíduos.

Na prática, a LGPD ainda enfrenta desafios significativos, especialmente quando consideramos que muitos negócios no Brasil operam em um ambiente onde a segurança dos dados é frequentemente negligenciada. A cultura de desconfiança em relação ao tratamento de informações pessoais é alimentada por casos de vazamentos de dados, como o recente incidente envolvendo uma parceria da XP. É um ciclo vicioso: as pessoas se sentem inseguras e, por sua vez, as empresas se tornam complacentes, acreditando que a LGPD é apenas mais uma regulamentação a ser seguida, e não um compromisso ético.

Em última análise, enquanto a LGPD representa um avanço importante na proteção de dados no Brasil, é crucial que as empresas e os cidadãos se unam em um esforço coletivo para garantir que o consentimento seja respeitado de forma genuína. Se a privacidade é um direito, é hora de tratá-la como tal. A legislação não é apenas uma questão de conformidade; é uma questão de dignidade humana, e a responsabilidade de todos nós é garantir que isso não se perca em meio à pressa do dia a dia.