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Privacidade e a utilização do e-mail

Um olhar crítico sobre a banalização dos nossos endereços de e-mail


Ele pode ser considerado a evolução da correspondência. De fato, o e-mail nasceu como um endereço eletrônico com a finalidade de receber e enviar mensagens instantaneamente, gratuitamente, e com inúmeras vantagens: anexar arquivo multimídia, ficar armazenado sem prazo de validade, poder ser excluído, recuperado e pesquisado, etc.

Seu início deu-se em 1965, de forma bem primitiva e teve a sua utilização comercialmente explorada no início de 1990[1]. Assim, logo caiu no gosto do usuário que passava a criar suas listas de contatos e trocar mensagens dos mais diversos tipos: relacionamento, transações, acordos comerciais e por aí vai. Não demorou muito, também, que esse canal fosse visto como um excelente meio de divulgar produtos e serviços. Nasce aí o e-mail marketing.

Por ser um meio democrático - principalmente hoje, todo usuário brasileiro tem uma conta de e-mail visto as regras de negócio para se ter um smartphone que utilize Android ou IOS - de fácil acesso, gratuito e que está sempre presente do usuário - aplicativos de e-mail são nativos nos Sistemas Operacionais dos Smarthones - é comum que as empresas apostem nele para entrar em contato com seus clientes, prospects ou leads. O fato de uma pessoa dificilmente trocar de e-mail - ao menos que utilize um endereço eletrônico da empresa que trabalha - faz com que o ponto de contato seja de alta qualidade e permite identificar uma pessoa nos mais diferentes pontos de contato - uma hora ela faz uma compra na loja on-line pelo e-mail cadastrado, outro momento responde uma pesquisa com o mesmo endereço eletrônico ou entra em contato com a empresa utilizando a mesma conta.

O e-mail, além de correio eletrônico, tornou uma importante ferramenta de identidade on-line - funcionamento idêntico a um RG ou CPF. Aproveitando-se dessa característica, a maioria das aplicações digitais utilizam este canal como forma de efetuar login. Dessa forma a unicidade do indivíduo torna evidente possibilitando o rastreamento e a vigilância de cada um de nós pela Web e pelo Smartphone.

O fato é, compartilhamos nosso e-mail em troca de descontos, para receber um material gratuito, para acessar uma rede social e até para transferir arquivos. Os serviços on-line percebem qual é o valor desse ponto de contato e percebe o quão frágil é a nossa relação com o e-mail. A compra de bases de endereços eletrônicos em CD-ROM's nos camelôs já é uma prática condenada há anos, os ISP's[2] e provedores de e-mails criaram mecanismos que permitem coletar e penalizar remetentes que enviam mensagens para um alto número de contatos sem que haja nenhum indício de interação prévia. A forma com que os contatos chegam ao mercado ilegal é diverso: invasão de bases de dados internas, venda de bases internas, compartilhamento de e-mails em massa, algoritmos que captam endereços eletrônicos em sites, etc.

Apresentado o fato acima, faço uma pergunta: você já parou para pensar em quais empresas você permitiu que tivessem o seu e-mail? Todas as mensagens que você tem na caixa de entrada são provenientes de marcas que você permitiu que entrasse em contato com você, e mais, qual a importância que você dá para a maioria dos e-mails marketing que recebe diariamente.

 

Ah, mas é só um e-mail, o que pode acontecer?

Como já mencionei, considero o e-mail tão único quanto um CPF ou RG. Assim, caso a sua senha não seja forte o suficiente, alguns minutos sob o efeito de um algoritmo de quebra de senha a sua conta pode ser invadida. Outra forma, mas não menos grave, é o recebimento de Phishings - e-mails com identidade visual parecida com instituições, mas que carregam consigo scripts e arquivos maliciosos.

O enriquecimento de dados, a partir de e-mail, também é uma forma da utilização, por empresas, a fim de conhecer mais dados sobre a sua base de e-mails. Uma vez que utilizamos nosso e-mail para sincronizar nosso histórico, senhas, plug-ins no Google Chrome, nossos cookies também são compartilhados e isso faz com que empresas de trackeamento possam coletar informações e atribuir a cada um dos e-mails que estão na plataforma deles.

 

Então, o que devo fazer?

Não há uma resposta simples, não há solução definitiva. Avalie a maioria dos remetentes que você recebe mensagens. A cada período de tempo eu tenho o cuidado de limpar a minha caixa de entrada de e-mails e pratico, sem dó, o ato de sair da lista de e-mails marketings de algumas empresas.

Verifique também quais empresas respeitam o botão de opt-out. Além de uma questão prevista em lei é um sinal de respeito que a marca tem com os seus leads e denuncie toda a mensagem que vem para você sem que tenha solicitado ou entrado em contato previamente.

 

[1] https://www.tecmundo.com.br/web/2763-a-historia-do-email.htm

[2] É uma organização que oferece serviços de acesso, participação ou utilização da Internet. Provedores podem ser organizados de várias maneiras, tanto comercialmente, sem fins lucrativos ou em comunidades. Além de oferecer acesso a Internet, provedores geralmente também oferecem serviços de "e-mail", "hospedagem de sites" ou blogs, entre outros. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fornecedor_de_acesso_%C3%A0_internet

 


Fabricio Barili Mestrando em Ciência da Comunicação pela Unisinos. Mestrando em Ciência da Comunicação (Linha 3 - Cultura, cidadania e tecnologias da comunicação) pela Unisinos e bolsista CAPES. Projeto de pesquisa é relacionado à trabalho digital e privacidade. Entusiasta e interessado nas áreas de Big Data, IoT, Machine Learning e Deep Learning a fim de entender o comportamento das pessoas nos ambientes digitais e tornar a comunicação mais eficiente. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K2382818Y6

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