Vazamentos

Governo divulga dados pessoais dos beneficiários do auxílio emergencial e especialistas alertam sobre invasão de privacidade

Os dados pessoais de 58,6 milhões de brasileiros beneficiários do auxílio emergencial foram publicados no Portal da Transparência do Governo Federal, violando os direitos desses cidadãos.


Com a justificativa de dar transparência ao pagamento do auxílio emergencial, o ministros da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, divulgou dois arquivos com os dados pessoais dos brasileiros que estão recebendo os R$600,00, no último domingo (7).

 

Sendo assim, 58,6 milhões de brasileiros tiveram seus direitos violados com as informações sendo publicadas no Portal da Transparência do Governo Federal. 

 

De acordo com o advogado Rafael Faben, especialista em Direito Digital e Proteção de Dados Pessoais, o cidadão brasileiro tem o direito fundamental à privacidade e intimidade resguardados pela Constituição Federal.

"Não se está aqui para defender o anonimato das informações, mas sim o direito fundamental ao cidadão que fez uso de tal benefício [auxílio emergencial], de ter preservada sua intimidade e privacidade", explica o advogado.

 

Faben destaca ainda que a exposição de dados pessoais sensíveis, permitindo que qualquer um possa acessar, coloca esses brasileiros em situação de vulnerabilidade e até de discriminação.

 

"Vivemos um momento onde as informações são trocadas em aplicativos de conversas e redes sociais de forma extremamente veloz. São terrenos onde existem julgamentos e condenações sobre atos praticados (ou não) por todos nós", alerta.

 

O fim da privacidade

 

Tanto no Portal da Transparência quanto nas planilhas divulgadas pelo ministro da CGU é possível ter acesso às seguintes informações: estado, cidade, número de identificação social (NIS), CPF, nome completo e valor do auxílio emergencial de cada cidadão que recebeu o pagamento.

 

Sobre o CPF, o banco de dados só exibe os seis dígitos do meio. Ou seja, os três primeiros e os dois últimos números são ocultados. Para a analista de políticas para a América Latina da Eletronic Frontier Foundation, Veridiana Alimonti, o fato de não ser divulgado o CPF inteiro não protege o cidadão.

 

"Tem nome completo, CPF e a cidade onde as pessoas moram. Uma beleza para roubo de identidade, fraudadores e afins. Poderiam cruzar com outras informações ou bancos de dados disponíveis e completar a parte faltante", explica a analista.

 

Além de considerar uma violação dos direitos, o professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu, alerta que essa medida pode gerar golpes na praça com o CPF dessas pessoas.

 

"Já têm muitos golpes contra aposentados e agora vai ter o golpe de um cara que está numa situação difícil e que recebe uma mixaria", completa.



Fiscalização

 

O Governo Federal ressalta que a divulgação desses dados é uma forma do brasileiro fiscalizar o pagamento do auxílio emergencial. Uma oportunidade para que eles possam denunciar quem está recebendo o pagamento indevidamente.

 

Entretanto, Amadeu argumenta que o governo já conta com auditoria e servidores públicos para essa tarefa.

 

"Pagamento irregular é o que recebeu o filho do presidente da República e ele protege. Diz que ninguém pode ter acesso a essas informações. E agora ele vem abrir informações das pessoas, que não têm privilégios, nem direitos e que são pobres", diz o professor.

 

Portal da Transparência

 

Vale lembrar que o ministro da CGU informou, na última quinta-feira (4), que os dados dos cidadãos que recebem o auxílio emergencial já estava no Portal da Transparência. Entretanto, o grande número de acessos gerou instabilidade no site levando Rosário a publicar os arquivos em sua conta no Twitter.

 

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